Nos últimos dias, a violência contra crianças chamou-nos a atenção com o triste caso do jovem Henry. Porém, esse assunto é um tema perene na pediatria.
A violência contra crianças e adolescentes é uma realidade em todo o mundo, infelizmente. No Brasil, em 2019 foram feitas 29.965 denúncias de violência contra crianças e adolescentes. Em 2020, pela pandemia, esse número sofreu uma redução para 24.416 denúncias. A subnotificação das denúncias foi um efeito do isolamento social e da suspensão de aulas, pois a muitos casos são descobertos por meio das escolas.
A negligência é a forma mais frequente de violência e pode ser física, quando falta alimentação, higiene ou cuidados médicos básicos para a criança ou adolescente; emocional, quando há privação de suporte mental e afeto necessários para o seu desenvolvimento pleno; e educacional, quando os cuidadores não proporcionam formação intelectual (ao privá-los de ir à escola, por exemplo).
Crianças e adolescentes podem mostrar os sinais da violência que estão sofrendo de diferentes formas.
Quando a violência é física, podemos observar hematomas (os quais muitas vezes estão em áreas escondidas), fraturas (recentes e antigas) e queimaduras, por exemplo. Nesses casos, o olhar atento de um profissional de saúde pode ajudar, pois essas crianças muitas vezes são levadas a serviços de emergência.
Porém, quando a violência é psicológica ou sexual ou ocorre na forma de negligência, outros sinais podem ocorrer, como:
– alergias e problemas de pele de difícil controle; dores de cabeça, náuseas; infecções recorrentes, decorrentes do sofrimento psíquico a que estão submetidos.
– perda de peso, sinais de desnutrição, dificuldade no auto-cuidado, sentimento de menos valia (principalmente em casos de negligência parental);
– sinais de sofrimento psíquico como: ansiedade exacerbada, alteração do apetite e do sono, gagueira, dificuldade no controle da urina e das fezes, baixa autoestima, medos exacerbados e não justificados, sinais de depressão, perda da confiança nos adultos que cuidam dela, alterações de comportamento (alterna entre períodos de agitação excessiva e de apatia extrema), agressividade, uso de linguagem e termos inadequados ao ambiente familiar (que não fazem parte da rotina da casa), tiques e manias. Crianças menores podem apresentar atraso no desenvolvimento neuropsicomotor.
Além dos sinais já mencionados,podemos observar também comportamentos hipersexualizados, que podem ser considerados normais por essas crianças por serem utilizados pelo agressor. É importante reforçar que a violência sexual não se configura somente quando existe penetração. Ela pode ocorrer através de carícias e manipulação de genitais. Na parte física, a vítima pode apresentar lesões do tipo condiloma (verrugas genitais) e corrimento (no caso de meninas). Vale lembrar que meninos também podem ser vítimas.
Seus efeitos podem ser duradouros e tardios, principalmente quando nada é feito para interromper esse ciclo de violência, pois muitas vezes essas crianças são desacreditadas em suas queixas. Por outro lado, seus pedidos de socorro podem ser tão sutis que passem despercebidos por familiares ou adultos do seu convívio.
Estar atento é dever de todos nós. Denunciar é uma questão de humanidade. Essa denúncia pode ser anônima. Proteger crianças e adolescentes é proteger o futuro de toda a sociedade.
Por Dra. Josie Pimentel
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