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O menino que virou super-herói

 

O menino que virou super-herói

 

Victor chegou a Brinquedoteca “grudado” na mãe. Nada era convidativo o suficiente para separá-lo dela, carrinhos e fantasias diversos, lápis de cor, massinha, tinta, bola, tudo parecia sem graça, sem cor, sem encantamento aos olhos dele.

As crianças brincavam alegremente, relacionando-se entre si, trocando experiências, vivenciando a beleza e desafio de lidar com o outro. A Brinquedoteca possibilita a socialização; é um brinquedo que está na mão do outro e parece ser mais interessante; é a mamãe que tem o outro como filhinho; é a construção de uma pista para juntos brincarem de carro; é a dupla batman e robin; interação saudável que possibilita o crescimento e este refletirá na convivência em sociedade em todas as fases da vida.

O Victor não conseguia relacionar-se com as pessoas presentes neste espaço (Monitora, Voluntárias e as crianças). Não conseguíamos adentrar seu mundo, pois se mostrava arredio e agressivo; não conhecia a convivência com o outro e não estava interessado em descobrir. Para ele, o fator essencial era estar junto à mãe.

No primeiro dia que chegou para brincar, recusou-se a ficar e foi respeitado, pois se percebeu que sua adaptação aconteceria por meio do processo da convivência e tratava-se de um grande desafio.

Fomos desenvolvendo um trabalho de desprendimento com ele e a mãe, possibilitando ao Victor desenvolver sua autonomia.

No início a mãe ficava junto até ele perceber que podia sentir prazer por estar neste espaço e fazer o que gosta sem a presença dela. Quando descobriu que a mãe deixava-o e ia para o curso de Trabalhos Manuais chorava muito. Gradativamente foi descobrindo-se e percorrendo esta caminhada passo a passo em conjunto com a monitora; cada semana era uma conquista.

Hoje sua mãe realiza as atividades com tranqüilidade e Victor cresceu fortalecendo-se emocionalmente. Frequenta o Programa Educação Infantil desenvolvendo suas habilidades e relacionando-se saudavelmente com as crianças e educadoras.

Segundo depoimento de sua mãe: “Quando meu filho começou a freqüentar a Brinquedoteca ele não gostava de brincar com outras crianças, não dividia os brinquedos e só queria ficar perto de mim. Agora ele adora ficar lá e tem muito espaço para brincar e conviver com as outras crianças. Ficou mais afetuoso em casa também”.

Por meio da parceria com a Educação Infantil, na qual se realiza o empréstimo de brinquedos quinzenalmente, tem-se a oportunidade de vê-lo sair da sala com a carteirinha na mão, corajoso, decidido, e seguro de si, em direção a Brinquedoteca para pegar o brinquedo emprestado.

Victor passou por um processo de transformação pessoal proporcionado pelo estímulo voltado às brincadeiras e brinquedos disponíveis na Brinquedoteca. É neste espaço que as crianças têm a oportunidade de expressarem-se de diversas maneiras, brincam com o que têm vontade, assim podendo ser elas mesmas, sem máscaras, a não ser é claro que seja a do Batman.

(Obs: Este caso aconteceu em 2006 em uma Brinquedoteca alocada dentro de um Projeto Social em São Paulo.)

 

Por Cristiana Lima

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