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Infodemia, a nova pandemia.

Infodemia, a nova pandemia.

Gisele Ducati & André Eterovic
(Universidade Federal do ABC)

Estamos em meio a uma pandemia inédita. São milhões de bytes de informação que nos bombardeiam sem perdão. O vírus foi criado em laboratório? Tomar água morna com limão e bicarbonato em jejum funciona? A cloroquina é eficaz? Luz e calor do sol impedem a circulação do vírus? Ele é transmitido por mosquitos? O coronavírus está no ar e os riscos de contágio são altos. Ainda não existe uma vacina. O que devo fazer? Em quem acreditar?
Antes de qualquer coisa: calma! A facilidade e a velocidade de acesso à informação têm, como tudo na vida, o lado bom e o lado ruim. O lado bom é que os cientistas podem conduzir suas pesquisas, interagindo com seus colaboradores, reunindo dados, criando modelos matemáticos e monitorando o que o SARS-CoV-2 está provocando no mundo. Esse fluxo de informação, embora não traga respostas imediatas, ocorre de forma muito mais rápida do que durante a gripe espanhola, a pandemia do início do século passado que matou milhões de pessoas no planeta. O mundo científico nunca esteve tão unido ao procurar soluções para a COVID-19.
O lado ruim — e agora chegamos ao ponto central desse artigo — é que as informações mentirosas e/ou enganosas avançam ainda mais rápido do que os cientistas. Esse fenômeno é tão terrível que recebeu o nome de infodemia. A Organização Mundial de Saúde define-a como a difusão massiva de informação, verdadeiras ou não, comprometendo o acesso a dados que tenham respaldo de cientistas e autoridades sanitárias. Isso é grave? Sim, porque expõe pessoas a uma série de riscos durante a pandemia de COVID-19. Se alguém acha que basta um solzinho ou tomar água com limão e está protegida, na verdade está correndo perigo. E arriscando a vida de quem está ao seu redor. As consequências podem ser ainda maiores. Em 2015, durante a epidemia do ebola na África Ocidental, agentes de saúde foram mortos porque espalhou-se a notícia (falsa, é claro) que o vírus havia sido criado para contaminar os dissidentes do governo.

Esse comportamento nocivo pode ter origem no interesse político ou econômico, mas nem sempre é intencional. Muitas vezes, o cidadão acha que está agindo corretamente ao informar seus entes queridos. Porém, acaba disseminando informações recebidas de parentes, amigos ou profissionais da área que não estão representando suas instituições. Não vêm de fontes tecnicamente confiáveis como institutos de pesquisa e universidades renomadas, órgãos governamentais ou repartições das Nações Unidas.
Nenhuma das perguntas do início do texto tem resposta afirmativa. A única forma eficaz que temos para enfrentar essa pandemia é a Ciência. Com base em dados de outras epidemias, cientistas trabalham em modelos matemáticos que descrevem como essas fake news interferem em nossa vida. Alguns desses modelos atribuem ao indivíduo diferentes probabilidades de acreditar em uma notícia falsa, de compartilhá- la com outros e de mudar seu próprio comportamento. Em seguida, avalia-se seu risco de contrair ou disseminar a doença. Em geral, uma pessoa que acredita nas mentiras tem uma chance maior de se contaminar com o vírus “verdadeiro”.
E você, como deve agir? Uma boa notícia é que há um comportamento que pode conter a disseminação de notícias falsas: verificar a origem da informação. Há meios confiáveis para fazê-lo. Se você não teve tempo de checar, não repasse a notícia para ninguém.
No caso da COVID-19, reporte-se às seguintes fontes:
Observatório COVID-BR https://covid19br.github.io/
Covid verificado https://www.covidverificado.com.br/
Ministério da Saúde (https://www.saude.gov.br/fakenews)
Aplicativo “Eu fiscalizo”, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), disponível no Google Play.
Referências:
https://news.un.org/en/story/2020/04/1061592
https://www.nature.com/articles/d41586-020-01409-2

Epidemia de fake news


https://www.who.int/docs/default-source/coronaviruse/situation-reports/20200415-sitrep- 86-covid-19.pdf?sfvrsn=c615ea20_4

 

Por André Eterovic e Gisele Ducati

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