A fome é algo que ainda assola muitas sociedades, principalmente as mais pobres. Países com pouca educação ou poucos recursos, por vezes, recebem ajudas humanitárias com intuito de aliviar sofrimentos primários como, por exemplo, o direito à alimentação. Países ricos também sofrem da mesma tristeza, porém devido à descuidada divisão de riquezas. Os menos endinheirados vivendo à margem, mesmo que em áreas centrais e ricas das grandes cidades, à busca de algo para comer, para beber, ainda que seja para escapar da realidade de suas vidas.
Em nossas casas, assistimos cenas emocionantes que circulam pela internet: crianças famintas aos colos de mães desnutridas, desesperadas em filas infindáveis que se iniciam à beira dos caminhões a entregar alimentos. Quase todos desnudos. As crianças, já um pouco mais crescidas, correm e brincam com qualquer coisa que possa ser chutada ou manipulada. Por vezes dançam seguindo os ritmos que ouvem. O sorriso é o que tem em comum entre os pequenos a opor a vida miserável naquele ambiente, onde a falta de alimento é indicativo da escassez de recursos intelectuais para boa parte dos condenados a um futuro pouco alentador.
Já nas sociedades mais ricas a desnutrição tem sido social. Cada um quer a sua migalha de conhecimentos a recolherem para si mesmo com o sentido do saber como forma de poder mais, obtento, portanto, maiores recursos para competir na sociedade dos abastados.
Com comida em nossos pratos e recheados de possibilidades de encontrarmos sucesso em nossas vidas, não somos capazes de entender a necessidade da vida em sociedade. Ou melhor, não encontramos uma forma adequada para vivermos sem que o outro seja um empecilho ou um concorrente.
Noto, nas escolas, que os alunos se encaminham cada vez mais para as individualidades sem perceberem em que estrada estão a caminhar. Pouco do conhecimento se divide, quase nada se trabalha para o bem comum (antes se vê a si e o que ganha com seus atos) e, ainda, há a exclusão de pessoas como meio comum de autodefesa, pois é entendido que, ao se eliminar um indivíduo garantem-se exclusividades de amigos com pensamentos comuns. Problema sério que as escolas não estão a aprofundar os seus olhares. Na sociedade escolar tenta-se recolher e juntar as migalhas relacionais. São fragmentos do que se deve aprender a viver em sociedade, porém pouco é dividido ao saírem do ambiente coletivo, pois esse só existe nas escolas. As crianças devem ampliar seus horizontes a interferir e promover possibilidades de encontros em outros espaços sociais comuns, a reensinar suas famílias a se relacionarem.
Sociedade engloba adultos, velhos, pobres, ricos, doentes, bebês, gêneros diversos, sonhos e carreiras sonhadas, frustrações, alegrias, tristezas… mas, o que se vê nos adultos é o recolhimento dos seus filhos à busca das palavras mágicas: felicidade e sucesso. Porém, essas são conquistas que se dão pela diversidade das vivências que, por sua vez, se dá por encontros. Sendo assim, entendo que os encontros, em sua diversidade, são os alimentos de formação de cada indivíduo. Os encontros são quem nos dirão sobre o que pensamos e quem somos, portanto, a oferecer mais riqueza de nutrientes sociais a serem ingeridos e metabolizados.
O isolamento dos jovens de hoje lhes traz desnutrição social que impossibilita, a muitos, de viverem e produzirem para o bem comum. Há o claro sentimento e percepção de que, ao conseguir resolver-se, estará obtido o sucesso. Quanto a isso, me vem a propaganda da CLARO (telefonia celular), cuja mensagem é dar aos seus clientes a possibilidade de se tornarem gigantes a pisarem nos (concorrentes) menores. É ter a sensação de sucesso e felicidade vendo o outro sob seus pés. Isso sim, ao contrário, é plantar a tristeza e a fome social.
Macarini 05 de julho 2017
Claudia Chevis Diz:
novembro 23, 2024 at 12:16 am
Enquanto tivermos educadores com estes pensamentos, estamos, relativamente salvos!
César Lavoura Diz:
novembro 23, 2024 at 01:11 am
Muito bom, Maca, pois me considero amigo e eterno aluno!
Tatiana Diz:
novembro 23, 2024 at 11:00 am
Gostei muito dessa reflexão. Precisamos buscar alternativas para convivência social, mas que se enquadrem no mundo atual. É hora de reformular nossa maneira de conviver e o que pensamos sobre isso. Para toda escolha há ganhos e perdas, acho que a pós modernidade trouxe muitos ganhos, mas o convívio social foi a maior das perdas.
Maca Diz:
novembro 23, 2024 at 06:38 pm
Também me preocupo com com essa perda, mas acredito na nossa capacidade de transformação. Esse é meu esforço no trabalho com pessoas. Obrigado pelo seucomentário e um beijo.
Newton Lemos Diz:
novembro 23, 2024 at 04:23 am
Maca, parabéns pelo texto, simples, objetivo e acima de tudo, verdadeiro.
Que sorte dessa “molecada” (pais/alunos/amigos) poder contar com a companhia do profissional que você se tornou, mas que ainda traz no peito o menino que jogava bola na rua e brincava de pega- pega com os colegas, claro!
Que todos possamos aproveitar um pouco da experiência desses cabelos (sobrou algum fio ?) brancos, adquiridos em sua busca pelo conhecimento e sabedoria, acumulados ao longo de sua trajetória construída com tanto esforço e dedicação. Um grande abraço
Maca Diz:
novembro 23, 2024 at 09:06 pm
Oi Alê, só vi agora seu comentário. Que bom que podemos contar as nossas reflexões e os incentivos do amigos que nos ajudam a trilhar os caminhos das noasas crenças. Te agradeço pela sua amizade!
Maca Diz:
novembro 23, 2024 at 09:09 pm
Cláudia, ainda temos força para acreditar. Seu filho deu mais um motivo para essa crença. Obrigado!