… Surpresa …
Quando recebemos o diagnóstico do Pedro, uma das coisas que mais nos preocupava era o fato de saber que seu cognitivo era preservado,portanto ele compreenderia tudo o que se passaria a sua volta.Isso,quando ele era bebê,por inúmeras vezes foi motivo de sofrimento, visto que, não acostumado aos procedimentos que ele precisava ser submetido diariamente,fazia com que ele percebesse rapidamente o que aconteceria e chorasse bastante.Por outro lado, bastava um brinquedo bem colorido, um colo gostoso e tudo se resolvia rapidamente.
Conforme o Pedro foi crescendo, esses procedimentos passaram a fazer parte de sua vida, fizemos sempre com que ele compreendesse que a aspiração era necessária, a máquina de tosse, as terapias todas, enfim… ele passou a realizar tudo sem maiores “protestos”.Porém, convencer o “moço” sobre outras coisas da vida foi ficando cada vez mais difícil.Seu nível de exigência foi aumentando.
Não ouvi com palavras, é claro, mas foi como se ele me dissesse: “Mamãe: quero conhecer o mundo! Quero ter amigos, quero mais do que essa vida de terapias e passeios ocasionais”
E, é claro , que nossa preocupação em ofertar tudo que ele tinha direito era grande.
Desde antes do Pedro completar 1 ano de idade pensávamos: Gostaríamos muito que o Pedro fosse alfabetizado! Como será isso hein? Será que dá? Como vai ser? Mas no final das indagações….sempre tinha o tempo! Ah, ele ainda não tem nem 1 ano.Quando chegar a hora pensamos nisso.
Um dia a hora chegou! Porque a hora sempre chega! E chega rápido. E chega cheia de perguntas, cheia de gente dando “pitaco”, cheia de incertezas .
E chega num país como o Brasil, que em sua maioria não sabe o que é inclusão e nem acessibilidade.
Bom, eu e meu marido nunca tivemos opiniões diferentes com relação ao Pedro estudar numa escola regular, mas houve quem nos questionasse sobre isso. E não foram poucas pessoas não.
“Nossa, mas por que não coloca ele numa escola especial primeiro? Depois você coloca numa “normal!” …. Houve também os comentários contra a ida dele pra escola: “Ah, ele não deveria ir pra escola. Vai pegar piolho, catapora, vai ficar doente toda hora, porque criança que vai pra escola fica toda hora doente….” Teve também ” Ah! Não acho uma boa, ele entende tudo, é esperto, vai ter consciência mais rápido da sua limitação!…” ….enfim…..esse foi só o começo.
A parte mais triste foi procurar uma escola.
Não me falem de lei, que é obrigatório eles aceitarem o Pedro porque uma vez que você leva seu filho a escola e a diretora diz: “Retornaremos semana que vem para dar a resposta” ….e NUNCA mais essa infeliz te dá um retorno, você NUNCA mais também quer seu filho estudando (na marra) naquela escola.Naquela escola que NÃO quer a presença dele lá.
Vamos falar do que interessa agora.
Achamos uma escola que quis o Pedro e quer até hoje! Aeeeeee!
E a sensação é (desde o primeiro ano de aula):mágica, única,encantadora….pra nós….imaginem pra ele?Fácil imaginar! O sorriso do Pedro é a resposta!!! Sempre! Tenho muitos relatos para contar nesses quase 4 anos que o Pedro frequenta a escola.Foram experiências diversas que dariam um livro.
E somos surpreendidos sempre.Pelo Pedro, pelos amigos do Pedro.
Meu filho está tão incluso, tão inserido , gosta tanto do ambiente escolar, dos amigos, que tem dificuldades (ele reclama muito….)em aceitar as adaptações para facilitar sua vida escolar. (ex.pincel adaptado, utilizar o acesso para quadra da escola) ou seja, ele quer usar o pincel igual ao que todos os amigos usam, não quer se separar dos amigos para ir a quadra.
Temos que explicar TODAS AS VEZES: “Filho, sua cadeira não sobe escada, vamos nos separar por um instante, mas logo você encontrará os amigos na quadra…..”
Converso com a psicóloga e digo: Ao contrário do que nos foi dito, o Pedro não se sente limitado, a sensação que temos é que mostramos um mundo tão cheio de possibilidades pra ele, que ele só quer saber de descobrir, explorar, do jeito dele….e não se deu conta do quanto ele é diferente.
E para minha surpresa (porque se eu disser que não fiquei surpresa vou mentir…..) esse ano, numa apresentação de um trabalho de tutoria feito na escola com a sala do Pedro ( crianças mais velhas orientando os mais novos)…. chego na escola com meu marido no dia da apresentação e ao adentrar a sala com a exposição dos trabalhos realizados, procuro rapidamente todos os trabalhos que tinham o nome do meu filho…..claro, como toda mãe faz.
Emoção por toda parte. Cada trabalho que eu via o nome dele, eu ficava cada vez mais vermelha e com a sensação de ter comido uma melancia inteira.O famoso nó na gaganta.
Até que eu vi um desenho que a tutora dele fez……. Aí eu parei.Parei de fotografar,de falar.Fiquei uns 2 minutos só olhando e pensando.
Li novamente o nome da tutora e o dele, para ter certeza de que era o desenho certo.E era.
Aí vi o quanto a condição física do Pedro não tem a menor importância para as crianças.Nem para ele.Como as crianças são maravilhosas.E como nós, adultos,somos preocupados demais, preconceituosos demais,limitados demais.
O desenho mostra que as características mais marcantes do Pedro são: o cabelo arrepiado e os óculos.Cadeira de rodas??? Ah?
Temos sempre muito a aprender com as crianças….
Pedro…meu eterno professor! Minha eterna gratidão! Tenho muito o que aprender!
Beijos galera,
Grazi
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