A EscolaEducação

a busca do sucesso X a baleia azul

Em toda a sua história, a sociedade teve e tem seus conflitos como gerador de medos, angústias e sofrimento. Por outro lado, tais processos trazem possibilidades de alavancar a percepção e a entrada em novos caminhos.

A palavra do nosso tempo acelerado é sucesso. Nela implicam-se várias outras: felicidade, saúde, relacionamentos saudáveis, amizade, dinheiro, celebridade, alta roda social, viagens… Cada um entende, ao seu modo, o que lhe remete ao seu sucesso pessoal. Quando digo ao pessoal, há que se ter em conta que, o fato de viver em sociedade, evoca-se o “outro” na participação do seu próprio sucesso.

Existe uma confusão muito grande em relação ao sucesso. Há uma busca insana com objetivo de se colocar como destaque na sociedade que, de fato, em grande fatia das vezes, se baseia numa tentativa de alcançar um grau de importância que o eleva ao topo, como indivíduo, no meio social em que convive. Sempre que observamos pessoas que se destacam positivamente na sociedade as temos como pessoas de sucesso. Estão em evidência pelo que são, pelo que fazem e pelo que têm.

Talvez esteja aí uma razão pela busca do sucesso: ser alguém que faz algo, portanto, o leva a conquistas. Neste sentido, acredito que sucesso não se busca, ele surge ao final de um caminho. Por vezes, ele é o próprio caminho. Não consigo entender sucesso como um objetivo de chegada, como a construir uma estrada para que se chegue até ele.

A sociedade grita a todo o momento aos ouvidos dos jovens dizendo que eles precisam focar no ponto de chegada “ser alguém na vida”, como se já não fossem, “ser felizes” e “que se deem bem na vida”. E ainda, que nós, pais, escola e sociedade, nos sacrificamos, “fazemos de tudo por vocês, jovens e filhos, para que tenham uma vida melhor do que a que tivemos”. Daí se extrai significados: ou os pais e a sociedade têm vidas infelizes (sem sucesso), e, por vezes, tentam transferir os seus sucessos não obtidos através dos que ainda são jovens, ou têm medos dos possíveis erros e frustrações que todos cometerão e sofrerão.

A pressão sobre filhos e estudantes é tão intensa que os faz entrar em caminhos de escolhas sem que na verdade tivessem o tempo suficiente de se olharem, de refletirem sobre si, ou seja, de saber quem são, do que gostam, do que desejam, do que são bons, do que lhes aflige. De onde apoiam seus pés para que deem seus passos e que façam algo que lhes traga sentido em suas vidas.

A modernidade tem colocado os jovens em seus encontros sociais através das máquinas e suas telas. O suicídio e o jogo baleia azul estão na onda do momento. Os afetam sem que muitos deles tenham relacionamentos saudáveis e sustentáveis na vida real. Poucos diálogos caseiros ou escolares com adultos. Estes se limitam a cobrança por resultados e sucessos revertidos em números azuis nos boletins, a dizer que o resultado, portanto, o sucesso, está ali, próximo às suas mãos.

A palavra sucesso pode ser entendida como um ponto de chegada, ao almejado. A capacidade reflexiva dos jovens ainda passa por processos de construção, portanto, sabem pouco, ainda, levar seus pensamentos à diante no sentido do que são cobrados e o porquê trilhar o caminho induzido pelos pais e pela escola. Têm a necessidade do pertencimento à família e a grupos de amigos. São definitivamente imediatistas pelo simples fato de respeitarem, sem saber (assim como muitos pais), o processo de maturação, pois é assim que também fomos.

Desta forma, o que me amedronta é a falta de conhecimento de si. A fragilidade que existe em sua autoestima baseada em isolamentos físicos, relacionamentos e exibicionismos virtuais, na contrapartida das cobranças a que os jovens estão expostos: à luta dos pais e da sociedade para que eles sejam (sem que as crianças, adolescentes e jovens tivessem a oportunidade da tentativa se discutir sobre quem de fato são). O contrário disso acontece em raros momentos. Assim, pais e sociedade empurram, desde ainda muito crianças, os jovens para o sucesso, para a chegada.

Não conheço outro ponto de chegada que não seja a morte. É uma frase dura? Não, ela é realista escrita por um professor que em sua profissão um dos princípios é o otimismo. Assim sou e escrevo porque acredito em mudanças, como dito no primeiro parágrafo. As mudanças são pelas vias da educação olho a olho, das mãos sobre os ombros, das mãos que enxugam lágrimas e que, se necessário, freiam desejos mesquinhos e ditam ética à custa de conflitos e estabelecimento de limites. Do não! Da frustração construtiva. Educação esta que não se faz por via dos aparelhos tecnológicos dirigidos pelas mãos dos que ainda não sabem o quê e quem são. Os jovens expostos vão ao que acreditam ser o sucesso, à chegada, de acordo com o imediatismo que têm.

Talvez a discussão sobre suicídio que apareceu tão intensa na sociedade tecnológica juvenil é remetida ao próprio sucesso. Para mostrar aos pais e a sociedade o quão rápido o atingirão e chegarão antes, de forma abreviada, ao ponto que todos chegaremos, criando, como sendo a única saída, uma picada, com o que têm de possibilidade em acordo com as suas frágeis ferramentas. Para mostrar a nós adultos, que instrumentaliza-los com aparelhos de alcances tão longínquos é jogá-los, sozinhos e sem as ferramentas maturacionais, com a visão distante e quase infinita na qual não se define onde é céu e onde é mar. Para serem laçados como um errante por monstros terrenos ou, a flutuar, caçados por monstros marinhos.

Márcio Macarini, 25 de abril de 2017

TALVEZ VOCÊ TAMBÉM GOSTE DE

NÃO HÁ COMENTÁRIOS

DEIXE UM COMENTÁRIO