Lourenço Pereira
Lourenço tem toda a sua formação voltada para as linguagens de artes visuais, trabalha a mais de vinte anos com crianças e jovens nas diversas frentes da educação. lorezjose@hotmail.com
O Sonho Acabou (?)
Em algumas de minhas observações, e devaneios, tenho me ocupado com ideias não pertencentes a lógica, a razão, a matéria, ainda que, são esses os elementos que ocupam a cena posteriormente a aquilo chamado de “insight”, o abstrato, o subjetivo, o lúdico. Eu gosto de chama-lo de: sonho.
Para poderem acompanhar minha linha de raciocínio, se é que a tenho, vou dividi-lo em três cenas por mim vivenciadas, e tudo começa pela terceira cena, quando bateu a sineta. Estava eu em um trabalho, na semana anterior a da páscoa, junto a crianças, entretido com um garotinho onde conversávamos sobre a escola, as amizades, a família. E… “Fala aí Matheus que ovo você quer?!”.
Matheus olhando para mim, estático de olhos arregalados. E… “Fala meu, tem da Marvel e dos Minions”. Matheus, de seis anos não respondia, mas, as indagações prosseguiam até que uma senhora, acompanhando Matheus, gritou para um senhor “Pai, pega o da Marvel mesmo”.
Vamos a cena dois, também junto a crianças na faixa de dez anos, conversámos sobre alguns conceitos encontrados nas animações que aparecem de forma subliminar. Junto à um grupo de três garotas e dois garotos perguntei, para elucidar a ideia que abordávamos, “vocês assistiram Toy Story?”. E em segundos uma fala entra arranhando os meus ouvidos “Nossa, detesto esse desenho, nada a ver, chato pacas”. Uma segunda fala completa “Pô professor, idiota esse desenho os brinquedos falam”.
Nessa ocasião por alguns segundos uma cena formou-se em minha mente, era Jules Verne chorando sentado a beira de um penhasco sendo consolado por Georges Méliès, e parecia estar, também, com os olhos marejados.
A primeira cena fez-me pensar muito, observando um diálogo entre duas crianças, aparentando seus cinco ou seis anos, onde uma delas tentava convencer a outra que Papai Noel era uma invenção de uma marca de refrigerantes, não farei menção a marca. Dentro da mais linda “lógica” infantil ouço do defensor da existência do bom velhinho “Uma fábrica de refrigerante não pode fazer Papai Nóel”. Afirmação brilhante, abri um largo sorriso. Mas, por outro lado, o propagador da teoria da conspiração prosseguia “Seu bobo, você não viu na televisão? Até a cor dos caminhões são vermelho e branco”. O garotinho da “contra-conspiração” emenda “Eu não acredito! ”. E a peleia parecia esquentar até que o conspirador profere “Meu pai me falou”. Nessa, eu que quase choro.
Queridos leitores serei breve na minha conclusão, pois penso, se não houvesse a inspiração de se viajar por de baixo d’água, se não houvesse o lirismo de se chegar à lua, se não houvesse a persistência de se manter no ar com aparelhos mais pesados que o mesmo, se não houvesse a curiosidade de saber como são os mistérios abaixo da superfície, se não sonhar.
Às vezes, sou visto e apontado como um sem noção, um pateta, um fora da casinha, aliviei os termos mas dá para entender, por insistir em manter vivo, junto ao universo infantil, alguns valores abstratos, subjetivos, lúdicos. E ainda muitos me dizem, “mas isso aí não leva a nada”, “vai ficar mentindo pras crianças?”, “depois viram um bando de idiotas”.
Então vamos lá, somando-se a Jules Verne e a Georges Méliès posso listar outros “idiotas?” Walt Disney, John Lasseter, Ellen O’Neal , Ub Ywerks, Hayo Myazaki, Amelia Earhart, Galileu Galilei, Albert Eistein, Madre Tereza, John Dalton, Thomas Edison, Charles Darwin, Anne Fischer, Isaac Newton, Henry Ford, Marie Curie, Charles Chaplin, Winston Churchill, Annie Lumpkins , Santos Dumont, Ada Lovelace, os irmãos Daguerre, os irmãos Lumière, os Grimm, Giordano Bruno. E o que dizer de Leonardo da Vinci? Lunático. Somam-se ainda Anita Malfati, Willian Shakespeare, Indira Ghandi, Colombo, Pasteur, Copérnico, Cervantes, Lavoisier…
Cheguei, sem razão alguma, a conclusão: sonhos movem o ser humano. Que tal tirar os pés do chão? Os das crianças também.
Lourenço Pereira
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