Quando iniciei esse assunto, não imaginei como a questão do afeto causa tanto perplexidade nas pessoas. Percebo, em todas as reflexões que faço com grupos de pessoas, mães e pais, que quando em peça que busquem na lembrança, algo que lhes tragam uma memória afetiva seja em uma cena, um cheiro ou um lugar, sejam boas e outras nem tanto, e me deparo com muitas indagações.
Mas para minha surpresa, na última atividade refletiva que fiz, e o que me levou a escrever este artigo, foi de uma pessoa que me disse:
– Val, não consegui lembrar nada da minha infância!
– Como assim? Perguntei.
E ela me disse:
– Não sei! Até me esforcei muito, mas nada veio na minha cabeça.
E aí pensei. Por quê? E voltei a perguntar:
– Nada de lembrança da sua infância, nem uma brincadeira?
Ela disse novamente:
– Não!
Percebi então o quanto aquilo fez falta na vida daquela pessoa, hoje adulta, tinha um “vácuo”, um buraco na sua história, não sei se posso dizer assim.
Então penso eu… que infância foi essa? Não houve nenhum afeto? Nenhuma lembrança alegre ou triste? Nenhuma cena para se lembrar, seja como for? E a resposta foi: Não, não houve!
Então vamos lá! Por ser a infância, um tempo tão importante na construção e desenvolvimento da criança, onde ficou este “tempo”? O que aconteceu? Ou o que não aconteceu?
Será que temos aí algumas lembranças apagadas? Talvez. Porque com certeza algo aconteceu.
Pensando, ou melhor, refletindo sobre esta vivencia, sinto-me ainda com uma maior responsabilidade no que eu busco com o Projeto Escola para Pais. Será que estamos criando crianças sem memórias afetivas? Ou, o que nós pais e mães estamos deixando escapar na vida de nossas crianças?
O desenvolvimento de uma criança não existe sem afeto, sem amor, sem toque, sem o cuidar, sem atenção, respeito, cumplicidade e envolvimento em tudo que faz e acontece na vida de um SER.
Nossa responsabilidade é muito grande neste aspecto do desenvolvimento de nossos filhos, pois somos nós os indicadores e auxiliares do caminho, somos nós que estamos lá, ou aqui agora, presentes em todos os momentos. E quando digo presente, quero me referir a “presença”, não só estar lá, mas perceber, escutar, ouvir, entender, explicar. Temos que atentar para o fato de que a criança se desenvolve a partir de nós, e que tudo que acontece na infância de nossos filhos terá uma marca registrada e interferirá na vida deles profundamente.
Espero imensamente que não ouça futuramente de nossas crianças, mais nenhum relato igual a esse.
Fiquemos atentos, ALERTAS, para que nossas crianças, nossos filhos nunca digam que não tiveram lembranças afetivas, pois algo de equivocado aconteceu… Falha nossa? Onde estávamos neste momento que não foi percebido que algo falho estava acontecendo ou não acontecendo com esta criança?
Que lembranças de afeto você esta ajudando seus filhos a construírem, para que um dia… ahhhh… um dia, quando perguntarmos:
– Qual é a sua memória efetiva?
Eles possam sorrir e lembrarem de algo muito, mas muito feliz sobre o que eles darão boas risadas de alegria, ou que talvez não seja motivo de risadas, mas que trouxe um grande aprendizado afetivo para a vida deles.
Val Pasini
Escola Para Pais
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