O PASSARINHO
(Aquarela de Tania Martins)
E meio a uma selva de pedra, existia um pequeno oásis com algumas árvores, onde habitava um pequeno ser, cujo nome também genérico e conhecido no diminutivo, Passarinho. Ele era apenas mais um em meio ao todo que compõe esse cenário que é marcado por um ir e vir frenético de seres.
Da árvore em que coabitava na mais perfeita harmonia, a ave observava com muita curiosidade o ir e vir dos homens. De onde percebia claramente alguns angustiados, outros apressados, aflitos, as vezes alguns deles até apareciam no local com um tipo de roupa especial para caminhar por ali, falavam uns com os outros sobre a necessidade de cuidar da saúde e andavam, outros até corriam, mas de maneira sisuda.
O pequeno habitante da árvore tinha a impressão de ver subir fumaça escura, semelhante aquelas que saem do escapamento dos carros, só que essa fumaça vinha da cabeça das pessoas que por lá transitavam.
Por mais que se esforçasse o Passarinho não conseguia entender a situação daquelas criaturas que caminhavam sobre duas pernas, por vezes o animalzinho se questionava se viver sem voar era tão insuportável como aparentavam aquelas pessoas.
Comovido com o que se verificava, o pequeno pássaro começou a pensar no que poderia fazer para amenizar aquele sofrimento. Não demorou muito para que uma vontade incontrolável de cantar tomasse conta do seu ser. Assim o Passarinho soltou a voz, expressando toda a gratidão pelo simples fato de existir.
O cântico foi tão intenso que pessoas começaram a parar para ouvi-lo. Lá procuravam pela ave que cantava entre as folhas de um galho. Nessa procura começaram a olhar para o alto e a perceber a presença de um céu azul, de um sol que insistia em iluminar, de árvores que há tempo se desdobravam para produzir lindas flores e frutos, mas que raramente eram notadas.
Depois desse dia, o Passarinho nunca mais parou de cantar, há quem diga que ele foi além, contou para seus amigos sobre sua descoberta, daquele dia em que ele percebeu que sua contribuição para um mundo melhor era dar aquilo que possuía de mais genuíno: o seu canto.
(Texto: Shirlei Pio/ Março de 2018)
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