Daniela Dal Colletto
Sou cirurgiã-dentista desde 2002, formada pela FOUSP, com especialização na área de Implantodontia. Acupunturista formada pelo CEATA, em São Paulo, em 2006. Mãe do João Francisco, 5 anos. danicolletto@hotmail.com
Mas é “dente de leite”… Precisa tratar?
Essa é uma pergunta muito frequente que os pais me fazem no consultório. Antes de responder, vou usar uma analogia para explicar melhor o que acontece.
Uma pequena passagem Bíblica (Lc 6:46 a 49) nos diz:
“Por que vocês me chamam de ‘Senhor, Senhor’, e não fazem o que digo? Eu lhes mostrarei com quem se compara aquele que vem a Mim, ouve as minhas palavras e as pratica: É como o homem que, ao construir uma casa, cavou fundo e colocou os alicerces na rocha. Quando veio a inundação, a torrente deu contra aquela casa, mas não a conseguiu abalar, por que estava bem construída. Mas aquele que ouve as minhas palavras e não as pratica, é como um homem que construiu uma casa sobre o chão, sem alicerces. No momento em que a torrente deu contra aquela casa, ela caiu, e a sua destruição foi completa.”
Uma passagem tão antiga, mas tão sábia. A base, a fundação, o chão, deve ser forte, para que a construção seja firme e segura. A mesma coisa acontece com nossa saúde, em especial, a saúde bucal.
O dente decíduo, popularmente conhecido como “dente de leite”, é um dente “temporário”: os primeiros dentinhos surgem entre 6 e 8 meses e os últimos dentes caem por volta de 11 anos. Em poucos casos não existe o substituto permanente, e então esse dente deixa de ser temporário e passa a fazer parte da dentição definitiva.
Essa dentição inicial é muito resistente, e sua anatomia é semelhante ao dente permanente, embora vemos somente sua “coroa”, quando ele cai. Quando o dente permanente está em formação, ele provoca a reabsorção da raiz do dente decíduo, o que forma o “caminho” que ele deve percorrer até sua erupção.
A posição dos dentes decíduos na arcada, em geral direciona o posicionamento dos dentes permanentes. Muitas vezes, a presença de cáries interproximais (entre os dentes), ou a perda antecipada do dente de leite pode provocar diminuição do espaço que o dente permanente tem para ocupar, ou desviar o caminho da erupção, fatos que determinariam mais tarde o uso de aparelhos para correção ortodôntica.
Além disso, é possível que o “canal” de um dente decíduo inflame, ou infeccione, devido à presença de cáries ou fraturas. Se isso acontecer, a dor é semelhante ao do dente permanente a pode não ser “manha” da criança reclamar de dores, ou não querer comer. Se o nervo necrosar, pode gerar abscessos que devem ser drenados e medicados com antibióticos, correndo os mesmos riscos de uma infecção em dentes permanentes.
Os cuidados e a atenção adquiridos na infância vão gerar, principalmente, a conquista de hábitos de higiene fundamentais para a boa saúde geral do individuo.
A alimentação equilibrada, a boa e frequente escovação e higienização bucal, e visitas frequentes ao dentista servirão de “chão de rocha”, para que a “construção” da saúde e de bons hábitos seja efetiva na juventude e maturidade, gerando economia não só financeira, mas poupando muito sofrimento e traumas, tão comuns nessa área.
Fica, então, a dica: A manutenção da saúde bucal da criança é a base para a saúde bucal do adulto.
Nunca se esqueçam disso. Um grande abraço, e até a próxima!
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