Diversão

Meu sincero pedido de desculpa aos adultos

Por anos me debati com a inquietação e as artes que meus filhos faziam, em especial os gêmeos.

Me lembro de ter sido chamada na escola os primeiros 35 dias da vida escolar deles, na entrada e saída. Não foi fácil.

Eles aprontavam na natação, no taekwondo, na escola, na casa das pessoas, ou seja onde quer que eles estivessem, ali estaria à confusão. Mas uma coisa eu afirmava em defesa deles, nas suas atitudes não havia maldade, mas travessuras das mais criativas possíveis.

Na verdade o que me incomodava muito, eram os olhares e a censura das pessoas, algumas diziam:

-Isso porque a mãe é professora…

Em alguns momentos cheguei até acreditar nessas pessoas todas adultas, claro. Elas não poupavam saliva e nem tempo para me aconselhar e listar os meus erros como mãe. Assim permaneceu por cinco anos.

Foi a partir de uma conversa com um desconhecido garotinho de 4 anos, que comecei a compreender a real situação da minha família. Enquanto brincávamos com bloquinhos de montar, conversávamos sobre nosso objetivo de construir um prédio gigante, cuja finalidade seria a demolição. Assim seguiu a brincadeira, rimos muito com o desmoronamento das pecinhas do brinquedo.

Espontaneamente ele começou a descrever sua mãe, como uma mulher maravilhosa, mãe do bem, que o protege e defende.

Fiquei encantada com aquela descrição da mãe pelo olhar daquela criança, insisto de 4 anos.

Foi quando agi como um legítimo adulto e perguntei:

-E eu, você acha que sou uma mãe do bem?

Ele me olhou com muita atenção e disse:

-Não.

Me preocupei, porque na minha visão limitada de adulto, eu só deslumbrava duas possibilidades, ou ser do bem, ou ser do mal. Logo se eu era não era do bem…ele teria de se explicar. Afinal ele nem me conhecia, o que o teria levado a pensar que eu era do mal?

A criança me olhou fixamente e disse:

-Você é uma mãe arteira, daquelas que fazem bastante bagunça.

Sem maiores explicações se levantou e me convidou para brincar de lutinha, com certeza umas das brincadeiras preferidas dos meus filhos, pois a lutinha sempre termina em cócegas e beijos.

Saí de lá num estado de reflexão tão profundo, alcançado talvez só na terapia. Dormi, acordei, fui trabalhar, mas continuava a pensar…para então concluir.

Como é que uma mãe arteira e bagunceira, quer filhos que não sejam arteiros e nem bagunceiros?

Seria o mesmo que esperar que uma laranjeira desse como fruto abacaxi.

Sim, somos uma família de arteiros e bagunceiros. Adoramos brincar de lutinha para acabar em cócegas e beijos. Dizer uns aos outros “EU TE AMO”.

Sinceramente , não vejo isso como um problema.

Os adultos que nos desculpem!

Shirlei Pio

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